segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Saúde é o que interessa

Um cirurgião pediátrico estudou , no mínimo , 6 anos de medicina geral, um curso de horário integral, com plantões noturnos e /ou nos fins-de-semana. Certamente passou alguns feriados trabalhando, sem receber hora extra por isso. Depois estudou feito um louco para conseguir entrar para a residência de cirurgia geral , nesta residência passou três anos trabalhando, dando plantões, sendo cobrado até o limite de sua resistência física , emocional e intelectual. Depois, fez a especialização em cirurgia pediátrica. Investiu em livros, equipamentos, cursos, congressos.
Finalmente, ele começa um trabalho remunerado, credencia-se num plano de saúde e começa a ganhar muito pouco por cada cirurgia que faz. Mas vá lá, pelo menos não está mais pagando para trabalhar. A responsabilidade e a dedicação são enormes.
Entre as tantas cirurgias que faz, há algumas de urgência, como hérnia e torção testicular. Como estas patologias são causadas por uma condição anatômica do pequeno paciente, há grandes chances dele apresentar o mesmo problema do outro lado , ou no outro testículo. O cirurgião, então, para evitar que a criança passe por aquele sofrimento novamente, ou pior que acabe tendo uma consequência mais grave , caso tenha o mesmo problema e não seja socorrido a tempo; faz uma cirurgia preventiva do outro lado.
O plano de saúde resolve passar a pagar pela segunda cirurgia, 70% do seu valor integral, justificando que o paciente já estava internado, anestesiado, na mesa cirúrgica, etc. Ano passado ou retrasado, não sei ao certo, o plano de saúde comunicou que passará a pagar NADA , zero reais, pela segunda cirurgia, ela passa a ser considerada uma etapa da segunda , já que é sempre feita mesmo…
Os médicos que conheço continuam fazendo a segunda cirurgia, porque para eles a prioridade ainda é a saúde do paciente, mesmo que para isto tenham que trabalhar de graça. O plano de saúde conta com isto.

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