quarta-feira, 29 de junho de 2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viva as potências!

"O poder é sempre um obstáculo diante da efetuação das potencias. Eu diria que todo poder é triste, mesmo se aqueles que o detém se alegram em tê-lo. É uma alegria triste. Mas a alegria é uma efetuação das potencias. Não conheço nenhuma potencia má. O tufão é uma potencia. Alegra-se na alma, mas não por derrubar casas, mas simplesmente por ser. Regozijar-se é estarmos alegres pelo que somos, por ter chegado onde estamos. Não se trata de alegria de si mesmo, isto não é alegria, não é estar satisfeito com si próprio. É o prazer da conquista. Mas a conquista não consiste em servir pessoas. A conquista é, para o pintor, conquistar a cor. Isto sim é uma conquista. Neste caso é a alegria. Mesmo que isso não termine bem, pois nestas histórias de potencia, quando se conquista uma potencia ela pode ser potente demais para a própria pessoa e ela acaba não suportando. "
Deleuze.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

quarta-feira, 15 de junho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Pequeno Passo

Por Marcelo Rubens Paiva

Tive uma tarde inacreditável ontem.
Caiu aquele toró durante a manhã. Às 13h, vesti uma sunga, uma camiseta do Timão, peguei uma toalha e fui para a natação, a 4 quadras daqui. Na volta, às 14h, tinha acabado a luz da quadra.
Um cabo de energia se rompeu na Av Pompeia. A Eletropaulo informou que a luz voltaria às 15h.
Não é só cavalo que não sobe escada.
Beleza. Fiquei pela garagem do prédio de sunga, ainda molhado da água com cloro, passando fome, sem um tostão, sem celular, nada para ler, buscando uma fresta de sol.
Às 15h, nada. O sol se abriu. Fui para a piscina do prédio. Ganhei a companhia da vizinha Raquel. Às 16h, nada. Segundo a Administração do prédio, a Eletropaulo prometera para às 17h.
O sol se foi. Voltou a chuva. Começo a tremer de frio e fome. Raquel foi buscar o filho na escola. Ganhei a solidariedade da síndica, Dona Norilda, e dos porteiros e seguranças.
Então, sugeriram: “Subiremos você no braço.”
Era a coisa mais maluca que já me propuseram.
Eu entraria no elevador desligado, e dois porteiros puxariam a máquina pelo braço. Um puxaria o cabo, uma corrente engraxada, e outro controlaria o contrapeso.
Me garantiram que é seguro, pois é assim, “o procedimeto”, que costumam tirar pessoas presas no elevador na falta de luz, quando ele está entre um andar e outro.
Sim, mas abaixar parece fácil, não levantar. Pois o zelador me disse que era o contrário.
Foi armada a operação. Fiquei com a síndica e uma lanterna na porta do fosso aberta.
O elevador estava no segundo andar. Dois funcionários subiram pela escada até a casa das máquinas. O abaixariam e me subiriam. Garantiram que em 20 minutos a operação estaria completada. A síndica quem deu a ideia e mais nos incentivava.
Disse ela que, depois da privatização, a ELETROPAULO não é mais a mesma, que escondem informações, inventam prazos, e que uma vez o prédio ficou o dia inteiro sem luz.
Com radinhos e gritos, começaram a mover o elevador. Víamos a corrente girar. O papo com a síndica rolava: os custos de se colocar gerador, os inadimplentes, e por aí vai.
Em 20 minutos, nada do elevador aparecer. E não é que os caras giraram a manivela no sentido contrário e o subiram vazio do segundo até o meu andar.
Recomeçar tudo de novo. Organizar a operação, aprimorar a comunicação. Logística. Descer tudo outra vez.
O tempo rola. Muita gente vem ver e papear, fumar um cigarrinho.
Seguranças que voltaram da folga subiram para ajudar. Porteiros se revezaram.
Enfim, a máquina chegou. Um morador aconselhou: “Quando chegar no seu andar, saia rápido, pois pode descer.”
Entro no elevador escuro. A síndica me dá sua lanterna. A porta ficaria aberta até o meu andar. Eu teria que contar, pois não há números escritos na parte de dentro do fosso.
Lá vamos nós.
Subo como uma barata subiria aquelas paredes. Vou gritando: “Primeiro andar!” Às vezes, paravam, exaustos. O elevador descia lentamente. Grito: “Está descendo!” Seguram a corrente. Sobem. Lentamente.
Cada andar aparece como um pôr-do-sol. “Segundo andar!” Então, para animá-los, começo a mentir. “Terceiro andar!” Nada disso, estava apenas vendo o batente da porta do terceiro. “Quarto andar!” Nem tinha deixado o terceiro ainda. “Vamos lá, falta pouco. Quinto!” A porta do quarto estava à minha frente.
Então, passei a incentivar mais, invertendo a ordem: “Faltam apenas três.” Faltavam quatro. “Está chegando!!!”
E, cada vez mais perto do meu andar, mais rápido ele se movia, como se quisessem encerrar aquela operação o mais depressa, salvar a tarde de um morador gente boa e voltar à rotina.
No meu andar, o zelador me esperava com luzes e a porta do hall já aberta. Ficou eufórico ao me ver perto. Também deu gritos de incentivo.
Assim que apareceu o meu hall e o elevador foi nivelado, segui o conselho do vizinho e saí no maior pau. O zelador gritou para os outros, eufórico: “Operação realizada!” Ouvi os caras lá em cima gritarem aliviados.
A síndica os cumprimentava pelo rádio. Meu telefone não parava; os amigos, que souberam pelo telefone, pois Seu Luiz, meu super assessor, contava sobre a operação para todos que me ligaram naquela tarde. E queriam informações.
Senti como Neil Armstrong chegando na Lua. Só faltou dizer: “Um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade…” No meu caso, seria no sentido figurado.
Bem, a luz voltou dez minutos depois. E pensei: não seria mais fácil subir carregado pela escada, sua anta?
Mas valeu a solidariedade, a mobilização, o carinho dos caras com quem cruzo todos os dias.
“Puxa, Seu Marcelo, a caixinha desse ano pros caras terá que ser mais caprichada”, comentou Seu Luiz ao me ver.
Posso falar? Por isso eu amo o Brasil. Isso jamais teria acontecido na Europa ou nos EUA. Jamais.
Lembro-me de dois casos em NOVA YORK de dois cadeirantes amigos.
EDISON PASSAFARO, paraplégico, instrutor de mergulho, militante das antigas, estava num busão de Nova York, deu o sinal para descer. O carro parou, porém o elevador para cadeira de rodas não funcionou. Travou.
Bastavam descer o EDISON [com "i" mesmo] 3 degraus. Mas ninguém se mobilizou. O procedimento era proibido. E ele perdia o programa que tinha marcado com os amigos. Ficou revoltado. Nada.
Foi obrigado a ficar no ônibus, que cruzou a cidade, parou no pátio, até aparecer alguém da manutenção e consertar aquela merda!
Já com o amigo tetraplégico, sociólogo e aventureiro GINO WILLIAMS, americano, foi na calçada da BIG APPLE.
Estava nevando. Era ainda a neve rala. E o cara já é meio doidão. Saiu pelas ruas, errou uma guia rebaixada, sua cadeira virou e ele rolou pelo chão, um tombo daqueles: cadeira de um lado, cadeirante do outro.
Ele riu. Sempre rimos nessa situação, que é comum a todos.
Então, ele todo torto no asfalto esperou que os pedestres viessem socorrê-lo. Ninguém parou. Começou a pedir ajuda. Nada.
Viu um casal com filhos. Achou que o marido pararia. Ou a esposa o obrigasse. Olhou nos olhos no cara. Nem chegou a pedir ajuda. O cara disse: “No way”. E passou por ele. Que bela lição de cidadania deu para os filhos.
É desse jeito que o GINO conta, americano que ama NY, mas que conhece bem o seu povo. Só alguns minutos depois apareceu um mendigo e o ajudou a se levantar. Negro, lógico.
Yes can we?

Daqui

segunda-feira, 6 de junho de 2011